Just because

Por quê ninguém posta nada?

Pergunta difícil. Dizem que só um idiota responde uma pergunta com outra, então serei um idiota: Por quê ninguém comenta nada?

Pode parecer um caso de "Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?", mas é isso que acontece, um deadlock.

Ninguém posta nada porque ninguém comenta nada.

Ninguém comenta nada porque ninguém posta nada.

É simples assim, como 1 e 1 são 2.

Isso não é uma resposta, e sim um gancho para um assunto maior: inclusão digital.

Lembro-me como se fosse ontem o dia em que eu ganhei aquele cursinho de HTML na Datacontrol em 1997 por causa de uma promoção no canal de IRC. Era uma promoção bem simples: achar qual página do site deles tinha uma determinada palavra, ou algo assim. O site era pequeno e não tinha muitos links então o jovem nerd sagaz abriu várias janelas do Netscape Navigator e na hora que saiu a pergunta, começou a localizar a tal palavra através do glorioso atalho CTRL+F.

(PS: A página pode ser acessada aqui: ESTE É O LINK PORQUE O ESTILO DO BLOG É UMA MERDA E SEQUER SUBLINHA OS LINKS PRA FACILITAR A IDENTIFICAÇÃO)

Confirmada a resposta, logo recebi um "parabens vc ganhou!" em pvt.

Dias depois, comecei o curso à noite, no Rua da Praia Shopping. Ainda devo ter guardados em algum lugar a pasta da Datacontrol, o caderno com algumas anotações e a RÉGUA DE PAPEL pra medir o tamanho das fontes no monitor, era sensacional.

Naquela época não existiam blogs, existiam HOME PAGES. Sempre tinha uma página de entrada com essa caveira idiota (podem clicar, é um link) e outras gifs animadas ridículas, além daquela música escrota em MIDI (geralmente era o tema do Missão Impossível) e uma seleção de cores pior que as perucas da Elke Maravilha.

Fazer toda essa porcaria era bem complicado, mesmo com editores WYSIWYG de HTML como o Hot Dog, que tinha vários plugins para fazer até image maps!

Com o tempo, ficou mais fácil fazer home pages, a tecnologia dos editores evoluiu. Criaram editores online (como o do Geocities), depois "gestores de conteúdo" e então a coisa começou a degringolar.

Gradualmente as "home pages" foram sendo substituídas pelos blogs. A primeira geração de blogs foi basicamente uma versão online do "Meu Querido Diário" das pessoas. Qualquer merda era postada nos blogs (e ainda são). Atualmente, os blogs são predominantemente utilizados ou por pseudoformadores de opinião, ou agregadores de conteúdo, que copiam e colam "o melhor da Internet".

Na minha opinião, a tecnologia não deveria nunca ter se popularizado. O preço dos equipamentos deveria continuar exorbitante, como aquele Aptiva K21 da IBM (outro link) que custava um olho da cara (porque o outro pagava o Kit Multimídia pra poder rodar as demos da Revista do CD-ROM).

A vida em 1996, 1997 e 1998 era muito boa. Ainda lembro das feiras de informática que aconteciam pela cidade, mas em especial as do Praia de Belas. Foi numa feira dessas que eu comprei um Cyrix 686, porque falaram que era bom. Até era, depois da segunda versão do Windows 95 que reconhecia ele como um 686 de fato e não um 486.

Se a tecnologia não tivesse evoluído a ponto que até um traficante do Rio pode ter um perfil no Orkut pra mostrar os dólares dele ou colocar no YouTube os vídeos da festinha dele cheirando cocaína, provavelmente esse blog também não existiria, muito menos esse post.

Postar ou não postar, realmente faz diferença na vida das outras pessoas? Alguém de fato lê até o final os posts? Alguém se importa com a falta de feedback?

Está aí a coluna da semana.

Fico no aguardo dos comentários monofrasais.

(OBS: Tudo isso foi escrito na segunda-feira, mas só tornado rascunho hoje, para ver quantos iam postar a coluna da semana)